15 de fevereiro de 2012

Tati Bernardi

e eu quis me fazer cortes. porque viver é difícil demais. e todo mundo me olhando, rindo, fazendo suas coisas. e daqui a pouco eu rindo e fazendo minhas coisas. e no fundo, abafado, dolorido, retraído, medicado, maduro, podre: onde está o amor ? onde ele vai parar ? onde ele deixou de nascer ? onde ele morreu sem ser ? por que eu sigo fazendo de conta que é isso. as pessoas seguem fazendo de conta que é isso. e por dentro, mais em alguns, quase nada em outros, ainda grita a pergunta.

11 de fevereiro de 2012

certamente

Tudo o que eu faço é errado. Minhas palavras são erradas, o meu jeito de ser é errado, tudo, cada movimento, cada pedaço de mim. Sou criticada por todos, e quero me referir a todos mesmo, até os que não me conhecem, principalmente eles. São ditas palavras ridículas a meu respeito, palavras que eu nem sei o que significam (...) Eu tento com tudo o que há dentro de mim ser perfeita. Tento, mas não consigo. Eles sempre acham um defeito. Eu não sei fazer tudo certo, eu não sei de tudo. Mas eu sei o suficiente para agüentar pessoas como vocês.

Caio Fernando Abreu

Quando percebi, estava olhando para as pessoas como se soubesse alguma coisa delas que nem elas mesmas sabiam. Ou então como se as transpassasse. Eram bichos brancos e sujos. Quando as transpassava, via o que tinha sido antes delas, e o que tinha sido antes delas era uma coisa sem cor nem forma, eu podia deixar meus olhos descansarem lá porque eles não se preocupavam em dar nome ou cor ou jeito a nenhuma coisa, era um branco liso e calmo. Mas esse branco liso e calmo me assustava e, quando tentava voltar atrás, começava a ver nas pessoas o que elas não sabiam de si mesmas, e isso era ainda mais terrível. O que elas não sabiam de si era tão assustador que me sentia como se tivesse violado uma sepultura fechada havia vários séculos. A maldição cairia sobre mim: ninguém me perdoaria jamais se soubesse que eu ousara.Ninguém me perdoaria se soubesse que eu sei o que elas são, o que elas eram.